A sujeira de sempre

O livro “O Tempo das Ruas – Na São Paulo de fins do Império”, da antropóloga Fraya Frehse (EDUSP, 2005), é muito interessante. Permite a conclusão de que a intensidade pode variar, mas os problemas do convívio urbano são sempre os mesmos.

As atividades sociais antigas constatam ocorrer, no final do século XIX, o depósito de dejetos fecais e domésticos nas ruas, banhos e lavagem de roupas nas várzeas dos rios, criação de animais nas ruas e presença de animais e de utensílios ligados ao comércio de animais nas ruas.

O jornal “A Província de São Paulo” noticia, em 26.8.1885, a indignação de cidadãos diante da falta de educação de algumas pessoas: “Chamamos a atenção do senhor fiscal para o abuso que se está dando de despejar-se o lixo na várzea do Carmo, sem atenção ao lugar indicado para esse fim, de fora que o entulho tem impedido a correnteza das águas e produz exalações desagradáveis e que podem trazer sérias consequências”.

A mesma “Província”, de 25.1.1879, já dissera: “Queremos falar da remoção diária de lixo, principalmente das casas situadas no centro da cidade. Exige a municipalidade que se faça tal despejo em lugar determinado da várzea, mas só quem não conhece as atuais dificuldades, criadas por falta de serventuários, poderá acreditar que a maioria dos habitantes possa fazer essa remoção com a conveniente regularidade”.

Já o “Diário Popular” de 12.12.1889, publica: “as pessoas que chegam diariamente de fora, pela Estrada de Ferro do Norte, e têm de transitar por aquela várzea são, desde logo bafejadas por exalações que não têm necessariamente o cheiro de rosas”.

Nessa época já se reclamava que paulistanos sequer se abalavam em tomar a direção da Várzea. Esvaziavam os barris repletos de águas servidas  e de materiais fecais, nas próprias bocas de lobo e sarjetas das ruas. Não adiantava reclamar: “certos indivíduos sem educação, especialmente os criados dos hotéis próximos, vão ali fazer o despejo de todas as imundícies, de modo que o trânsito por essa ladeira vai-se tornando quase impossível. Atualmente uma respeitável senhora está gravemente enferma, e os médicos declaram que se acha envenenada por miasmas deletérios”. Assim noticiava “A Província” de 18.7.1877. E agora, melhorou a situação de São Paulo? O que vocês acham?