Sem água não se vive. Verdade tão simples, mas tão ignorada. São Paulo passou 2014 às voltas com o fantasma da seca. Poucas chuvas. Esvaziamento rápido das represas. Mas a situação não era circunscrita ao nosso Estado. Todo o sudeste enfrentou crise idêntica. Fui de carro até Santa Catarina, para um encontro do Poder Judiciário e vi um Paraná saariano.
O problema é mundial e também universal, a falta de consciência. O lago Urmia, no Irã, que já foi um dos maiores lagos salgados do mundo, hoje é um campo abandonado. Há uma década, apenas, navios de cruzeiro cheios de turistas singravam suas águas e eram surpreendidos por bandos migratórios de flamingos. Agora não há sequer 5% da água original.
Mudanças climáticas, práticas perdulárias de irrigação, esgotamento de lençóis freáticos, tudo junto causa a escassez hídrica. E o lago Urmia não é o único a secar no Irã. Os principais rios próximos a Isfahan, no centro do País, e Ahvaz, perto do golfo Pérsico, já secaram. Assim como já ocorreu com o lago Hamoun, na região da fronteira com o Afeganistão.
Além da falta d‘água, a poeira dos leitos secos aumenta os níveis de poluição atmosférica no Irã. Aqui estão quatro das dez cidades mais poluídas do mundo, segundo a ONU. Não é diferente nos Estados Unidos. A Califórnia enfrentou em 2014 uma de suas maiores secas. O Projeto Hídrico Estadual, principal sistema municipal de distribuição, afirmou não ter água suficiente para complementar as reservas em declínio dos órgãos locais que fornecem água para 25 milhões de pessoas.
A última grande seca na Califórnia foi em 1976-1977 e a deste ano é ainda pior. A seca deixou os campos inóspitos, gado em condições de penúria e bolsões de poluição. Para B.Lynn Ingram, professor de ciências da terra e planetárias da Universidade da Califórnia, em Berkeley, é “a pior seca em 500 anos”.
Agricultores desistem de plantar, pecuaristas venderam o gado, pesca e acampamentos foram proibidos, os incêndios se multiplicam. Aqui não se nota maior preocupação com a restauração das matas ciliares. Continuam as aulas a ensinar crianças a decorar coletivos e o nome dos afluentes de rios que desaparecerão, em lugar de fazer as crianças plantarem mudas à margem dos leitos poluídos dos cursos d‘água que matamos de forma inclemente. O que nos espera amanhã?