TRAFICADOS E REFUGIADOS

Vítimas de guerras civis, terrorismo, perseguições e miséria, eles buscam no
continente Europeu uma chance de uma vida mais digna, mas nem sempre chegam
à terra firme. A tragédia dos que buscam refúgio mostra uma das faces cruéis
da sociedade global neste início de século. Só em 2015, mais de 2.500
pessoas morreram afogadas na travessia. É triste e espantoso lembrar que
tais mortes não são muito diferentes do porcentual de mortes dos escravos
africanos caçados nas florestas e trazidos para o Brasil nos séculos 17 e
18. De todo o contingente dos primeiros seis meses de 2015, um terço era
formado por homens, mulheres e crianças da Síria, cujos cidadãos têm sido
quase universalmente reconhecidos como refugiados ou elegíveis a outras
formas de proteção internacional. Os outros dois terços são majoritariamente
do Afeganistão, Senegal, Mali e Guiné. A Europa é o foco de imigrantes,
desde pelo menos a década de 1960. Para atravessar o Mediterrâneo, os
imigrantes se arriscam em embarcações superlotados sem o mínimo de
segurança. Aliciados por traficantes de pessoas, os passageiros acabam
desembolsando quantias maiores do que R$ 10 mil por pessoa, o que torna o
negócio altamente lucrativo. Um único barco pode render US$ 1 milhão. Por
outro lado, o tráfico criminoso de seres humanos já é a terceira atividade
comercial ilícita mais lucrativa do mundo, perdendo apenas para o tráfico de
armas e de drogas. Como boa parte desses imigrantes é clandestina, a
condição de ilegais os faz vítimas das gangues e máfias, com as quais são
obrigados a uma relação de semi-escravidão. Se de um lado esses cidadãos
fantasmas contribuem intensamente para a economia dos países desenvolvidos,
de outro são privados de direitos e apoio social pelos governos locais. Os
fluxos migratórios são responsáveis diretos pelo aumento da miséria e da
falta de oportunidades geradas por um pujante sistema econômico global, mas
que aumenta continuamente a exclusão social e a concentração de renda. Da
maneira como estamos gerenciando o processo civilizatório, os países mais
ricos terão mesmo de se cercar de altos muros e exércitos armados para
evitar o assalto das populações miseráveis; com quase nada a perder, elas
arriscarão a vida em troca de oportunidade pífia de ser clandestinas em país
hostil. Ou os governos revêem suas políticas de inclusão social, ou o
futuro será sórdido e sombrio.