UM RAIO “X” DAS URNAS

Um ano e quatro meses depois das ruidosas manifestações de junho de 2013, as
urnas elegeram o Congresso mais conservador desde 1964 segundo o Diap (
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). As jornadas de junho
representaram um acirramento de posições da sociedade brasileira. Não há
mais espaço a quem não se posicionar. De um lado a democracia amadurecendo
com opiniões diversas, doutro o crescimento de partidos ultraconservadores
como ocorreu na Europa de 1960-70. São cada vez mais recorrentes as
discussões sobre motivos que expliquem os altos índices de reprovação do
atual governo, e em contrapartida, a incapacidade de se formular propostas
capazes de combater o discurso da oposição. Mas não parece tão difícil assim
explicar os resultados do primeiro turno, assim como o avanço da oposição
além do que previam as pesquisas. Em síntese parecem ser três os fatores em
que se apóia a reprovação: a situação da economia, a onda de corrupção
divulgada diuturnamente na midia e a ausência de propostas renovadoras.
Começando pela inflação; durante décadas os segmentos de menor renda e renda
média conviveram com o fantasma inflacionário, que lhes corroia todo o poder
de compra em poucos dias após o recebimento dos salários – enquanto os de
maior renda, com a possibilidade de correção monetária e juros em aplicações
financeiras, até aumentavam seus rendimentos e sua participação na renda
total. Não foi outro o motivo central que levou à eleição do presidente
Fernando Henrique Cardoso, que passou de intenções de votos bem reduzidas ao
se lançada a sua candidatura – quando os índices mensais de inflação
chegavam à casa dos 80% − à vitoria no primeiro turno, com a vigência plena
do plano Real. E o segredo, no caso, foi o prazo dado aos setores
empresariais para que se adaptassem ao novo modelo, com a vigência da URV,
que lhes permitiu acumular “gorduras” e não aumentar preços. A estabilidade
monetária trouxe de volta valores (não apenas financeiros) esquecidos.
Ninguém quer voltar a viver o fantasma da inflação. A segunda razão são os
escândalos de corrupção como os shows que se transformaram o julgamento do
“Mensalão”. Hoje, parte da cúpula do PT ( Partido dos Trabalhadores) cumpre
pena pelos crimes. O “Petrolão”, apelido dado ao desvio de verbas na
Petrobrás, faz com que o “Mensalão” tenha se tornado “roubo de pirulitos”.
Estima-se o desvio de bilhões de reais. Já o terceiro fator, a falta de
novas propostas que tragam luz e esperança ao povo, na minha opinião é
fruto do desgaste de doze anos a frente do governo federal e de boa parte da
política nacional. Sabemos que na política brasileira não há santos, e que
satanisar qualquer um dos lados é mero oportunismo, mas a alternância de
poder é saudável, e parece que o povo vem dando mostras que já sabe disso.