Esse é o nome do livro de Alba Zaluar e Marcos Alvito, para continuar no tema que deve motivar todo brasileiro consciente nesta nova década. Os autores conseguiram evitar a “demonização” indiscriminada da favela e dos favelados e, ao mesmo tempo, a falaciosa “romantização” da vida alegre e despreocupada do morro.
O paradoxo é conhecido de todos. De um lado, as pessoas repudiam o favelado. Têm medo e receiam sua proximidade. De outro, músicas como “Barracão de Zinco” ou “Manhã de Carnaval” mostram a vida no morro como algo lúdico e lírico.
A favela é um fenômeno recente. Data de 120 anos. Mas dissemina-se de forma avassaladora, como se fora metástase social. O campo foi dizimado. A falta de uma política pública favorável à radicação do lavrador na lavoura fez surgir o grande empresariado do agronegócio, este mesmo que acabou por revogar o Código Florestal. Expulso da terra, o rurícola vai aumentar a população favelada em todas as cidades. Qual a cidade brasileira que não tem favelados ou similares?
O enfrentamento da questão varia conforme o governo. Na era Vargas, especialmente durante o Estado Novo, pensou-se em substituir a favela por “parques proletários”, numa visão sanitarista. Vitor T. Moura propôs ao ditador as seguintes medidas para brecar a expansão das favelas:
a) o controle da entrada, no Rio de Janeiro, de indivíduos de baixa condição social;
b) o retorno de indivíduos de tal condição para os seus estados de origem;
c) a fiscalização severa das leis que proíbem a construção e reforma de casebres;
d) a fiscalização dos indivíduos acolhidos pelas instituições de amparo;
e) a promoção de forte campanha de reeducação social entre os moradores da favela, de modo a corrigir os hábitos pessoais e incentivar melhor moradia”.
Tais medidas equivaliam a excluir a população pauperizada da cidade. Ainda existe quem pense que tal solução é a única para uma população que só tem de superabundante a fertilidade. Enquanto casais abonados às vezes lutam para ter um filho, a marginalidade procria de forma prolífica, a gerar indivíduos que os incluídos nunca chegarão a considerar “semelhantes”. Entretanto, é urgente enfrentar tal desafio.
A favela sempre foi vista como um território separado da cidade. Quando passar a ser vista como um bairro, o Governo será obrigado a propiciar as melhorias de infraestrutura, segurança, saúde, incentivo ao comércio legalizado, escolas públicas que ofereçam educação em período integral, já que os responsáveis pelas crianças geralmente trabalham na “cidade”, saem cedo e voltam à noite.
A nova geração está preocupada com o que vem acontecendo e vem se engajando em projetos sociais e buscando cargos políticos para reverter as mazelas deixadas pela geração anterior que se preocupou apenas em alimentar o orgulho acreditando que eram credenciados pela vida a ocupar situações privilegiadas, merecedores de homenagens, em detrimento dos demais.