Você é livre nas suas escolhas políticas?

Foi-se o tempo em que se acreditava que o eleitor decidia unicamente com base na qualidade e valores dos candidatos. Não que esses fatores não sejam importantes, mas a decisão é influenciada por vários mecanismos que ocorrem nas profundezas do cérebro humano.

Desde o lançamento do livro O Cérebro Político por Drew Westen em 2007, às vésperas das primárias americanas para a eleição presidencial de 2008, e traduzido por nós no mesmo ano pela Editora Unianchieta, fica evidente que a emoção prevalece com uma grande margem no julgamento e na decisão política.

Como disse o filósofo escocês David Hume no século XVIII: a razão existe para justificar as emoções.

O grande ponto de partida nessa linha foi dado pelo neurocientista Joseph LeDoux, da Universidade de Nova Iorque com seu livro O Cérebro Emocional (Ed. Objetiva) em 1996 e, com base nesse, Daniel Goldman popularizou o tema para o público leigo com diversos livros sobre a Inteligência Emocional.

Depois do fabuloso sucesso da obra The Happiness Hypothesis: Finding Modern Truth in Ancient Wisdom, traduzido para o português com o infeliz título: “Uma Vida que Vale a Pena – Ela Está Mais Perto do que Você Imagina” pela editora Campus, (eu jamais compraria um título de auto ajuda como esse), em 13 de março passado, foi lançado nos Estados Unidos mais uma obra do psicólogo e pesquisador americano Jonathan Haidt, da Universidade da Virgínia, especializado em psicologia moral: The Righteous Mind: Why Good People Are Divided by Politics and Religion (A mente honesta: porque as pessoas boas estão divididas entre política e religião?).

Nesta última, entre as inúmeras análises que apresenta, começando pela fundamentação científica, mostra que a intuição (fundamentada nas emoções) é a primeira análise dos fatos que fazemos de forma inconsciente, e para nós é auto evidente.

Exemplifica um experimento muito simples onde o pesquisador coloca quatro pares de palavras, para que a segunda palavra de cada par seja classificada como boa ou ruim, de acordo com os sentimentos do participante:

Flor–felicidade; Ódio–brilho do sol; Amor–câncer; Barata–solitário.

As respostas são extremamente fáceis. Por outro lado, quando se substituem essas palavras por outros pares como Clinton, Bush, Bandeira, Impostos, Bem-estar e Pro-vida,  e se apresenta às pessoas engajadas em política partidária, os resultados são muito diferentes, tendo como base a intuição ligada ao substrato cultural do participante.

Apresenta também pesquisas em que somos mais propensos a julgar as pessoas mais atrativas, mais hábeis e com mais virtudes de maneira mais favorável que as outras. Os juris tem mais tendência a aceitar os argumentos dos advogados mais atrativos, e quando um réu de boa aparência e beleza é condenado, os juízes costumam dar penas menores.

Um outro estudo muito interessante, relata que foram selecionadas fotografias de candidatos que venceram eleições americanas para a Câmara Federal e Senado em diversas épocas. Essas fotos foram mostradas em pares, ou seja, o candidato vencedor junto com o derrotado, às pessoas que não tinham, comprovadamente, nenhum conhecimento ou envolvimento político.

O resultado mostrou que os candidatos que as pessoas julgaram mais competentes foram os que venceram de fato as eleições, em dois terços dos casos.

Portanto dois pontos básicos na decisão política, apesar de não serem novidades para muitos que atuam nesse campo, mas agora comprovados com pesquisas específicas e rigorosas: são a intuição (emoção) e a cultura.

Sem nenhum demérito ou desabono ao Ilmo. Sr. Deputado Federal Tiririca, mas sua estrondosa votação é um claro exemplo da realidade brasileira hoje.

Duvido que em sã consciência, alguém discordaria que os fatores responsáveis por esse fenômeno foram a cultura (que o candidato soube explorar muito bem), o voto do analfabeto, “o voto obrigatório” e o nosso grande formador da opinião pública nacional que é a televisão, o que difere “do estado democrático” de outros países desenvolvidos do mundo ocidental.

1 comentário

  1. Vera Lúcia da Silva

    Com certeza o homem é fruto do meio em que vive!
    O limite dos valores de cada individuo vem de suas emoções, e esta, diretamente relacionadas a sua capacidade cultural. Assim sendo, está mais do que na hora de repensar os valores e a realidade brasileira de hoje.
    ACORDA BRASIL!!!!!
    Parabéns.

Comentários estão fechados.