O otimista concebe a História da Humanidade como um progresso contínuo. A cada estágio corresponde um salto evolutivo no caminho de um ponto ótimo na escala civilizacional.
Mas não é o que parece ocorrer, quando se olha em volta e se constata o que efetivamente acontece em várias esferas. Uma delas é a questão ambiental. Será que ninguém percebe que as inundações coincidentes com a escassez de chuva correspondem à resposta da natureza ante os maus tratos que a ela infligimos de forma contínua e cruel?
As cidades se tornaram espaços de competição, destinadas ao ídolo da era : o automóvel. As praças não são do povo, como quis um dia o poeta. São dos moradores de rua, daqueles que vivem explícita indignidade humana. A edificação contígua e sem espaço para uma árvore, um jardim, uma horta, é o testemunho de uma sociedade egoísta e ignorante. Não percebe que o verde valoriza aquilo que perde valor quando a vegetação é suprimida.
Produz-se cada vez mais lixo, atestado de retrocesso civilizatório e emporcalha-se o que restou de água na superfície, pois os córregos foram enterrados para dar lugar ao asfalto.
Já fomos melhores. Basta fazer um retrospecto e conferir as paisagens de que já dispusemos, em todas as cidades, e aquelas que hoje nos são oferecidas. Sob a aparência de desenvolvimento, involuímos aceleradamente. Não há um edifício sem pichação, um espaço asseado, as poucas árvores que restam são vandalizadas pelo animal humano, que embora mais escolarizado, perdeu a educação de berço.
O pior é a insensibilidade de quem poderia mudar o panorama, o conformismo daqueles que já não têm coragem de se indignar, a alienação da maioria.
O século XXI, que seria destinado à fruição das conquistas tecnológicas e reservaria aos homens o ócio prazeroso, destinou o triste espetáculo de uma sociedade cujo único sentimento é o desalento e que, ao desistir da tutela ao ambiente, desistiu também de evoluir. Volta-se à idade da pedra, rocha dura em que se converteu o coração do homem contemporâneo.
Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 07/01/2016
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.