A vida contemporânea oferece desafios que os antigos talvez não vivenciassem. Um deles é enfrentar os males da mente. A depressão acomete quase 7% da população mundial ou 400 milhões de pessoas. O resultado é catastrófico em vários níveis: incapacita o deprimido, atormenta sua família e subtrai à economia enorme energia e talento das pessoas.
Em 2010, os custos diretos e indiretos da depressão foram estimados em 800 bilhões de dólares, mais de 2 trilhões de reais. Custo que já parece exagerado, mas que vai dobrar nos próximos 20 anos. O deprimido perde oito dias de trabalho por mês, enquanto os “saudáveis”, quando perdem dia de serviço, não chega a dois.
Há muito preconceito contra a depressão, por alguns considerada uma fórmula de escapar às responsabilidades e não uma enfermidade. Mas depressão é doença. Atinge tanto homens como mulheres, mas há uma incidência preponderante na mulher em idade fértil. É algo com vinculações genéticas, pois filhos de pessoas deprimidas tendem a apresentar mais depressão do que os outros. Uma grande percentagem tem medo de recaída e quase todos afirmam que, nas crises, se esforçam para que os outros não percebam o real estado d’alma.
A depressão é porta de entrada para outros males da mente. Hoje a vida impõe ritmos desumanos, de forma a multiplicar os sintomas de incompatibilidade entre a higidez mental e a situação de uma legião de pessoas. Um dado já comprovado é o de que o morador de rua apresenta um quadro mental de anomalia. Não é verdade que um ser humano em plena saúde prefira o desconforto e a insegurança das vias públicas ao abrigo do lar.
Multiplicam-se também as várias síndromes, dentre as quais a do pânico está a conquistar muitas criaturas. Tudo isso precisa ser levado a sério, pois numa República em que aumentam os aposentados e os que se encontram em licença-saúde, assistir à proliferação de patologias da consciência é tema que deve interessar a todos, principalmente aqueles que se preocupam com o futuro de uma República enredada em assistência deficiente à saúde, refém de uma Previdência atuarialmente desajustada e onde prepondera a convicção de que a obrigação do Estado é suprir todas as necessidades, a despeito da insuficiência crônica de recursos financeiros. De qualquer forma, lutemos contra a depressão combatendo suas causas. Xô, depressão! Vade retro!
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.