Nesta Copa do Mundo jogada em casa o Brasil mostrou, como esperado, os encantos de sua gente e o desencanto de suas mazelas de sempre, porém pecou em campo pela fé demais e preparação e empenho de menos. E frustrou pelo futebol que apresentou.
Não pretendo aqui distribuir conselhos, que os bons se põem em livros e se os vendem, como faz o Paulo Coelho.
Como brasileiro e torcedor roxo, quero apenas desabafar…
O que dizer de um time escolhido com o dedo no computador e o ouvido no interesse escuso de terceiros?
Que reza abraçado e celebra sincronizado um gol inconvincente, mas quando joga não tem pra quem passar a bola, porque a equipe nunca disputou junto alguma partida importante?
Que mostra harmonia bachiana só no choro patético e comovente?
Se reza ou benzimento ganhasse jogos, o time das Carmelitas e o dos paroquianos de Bom Jesus de Pirapora seriam imbatíveis…
Mas jogos não são preces ou romarias, e nem novena estendida pra trinta dias.
O futebol é um esporte laico – às vezes até pagão! – onde não se dá a outra face.
O jogo é um campo de batalha de que santo não participa; onde dividir significa dar voadora na disputa pela bola.
O ato de contrição vem depois do apito final, junto com o abraço ao desafeto e a troca de camisas…
O beato acomodado – e como os há! – não gosta de procurar ativamente o bem; prefere aqueles que vêm dos males – “o que se há de fazer?”
Muita vezes preterimos o “ajude-se que eu ajudarei” pelo “peça e ser-lhe-há dado”.
E isso desde que levamos o carro novo pra benzer em Pirapora e voltamos bebendo cerveja e pisando na máquina quente.
A mim parece que o escrete canarinho – causa e efeito da cultura de um povo – passou a jogar ainda menos quando chamou os santos pra jogar por ele…
Afortunadamente, o Brasil vai continuar a ser o país do futebol e não é a incompetência ambiciosa dos cartolas que vai mudar isso.
Contudo, ao contrário daqueles governantes inescrupulosos que capitalizam pseudo vitórias, os brasileiros ordinários devemos usar essa decepção histórica e acordar da ingenuidade escancarada, participando mais ativamente dos destinos da nossa pátria tão cantada a capela.
O nosso futebol único já nos deu muitos momentos de glória e as próximas gerações ainda terão muitos mais.
Esse é um legado natural e garantido!
Agora o que mais devemos às novas gerações é aquela nação melhor que um dia tivemos por herança dos nossos antecessores mais patriotas.
Neste momento em que os meandros do mundo do futebol, com suas catimbas deploráveis, não parecem tão capazes de camuflar todo tipo de improbidade e maracutaias, é hora de encarar o nosso lado miserável e deixar a brincadeira só pra aqueles 5 dias que antecedem a quaresma, sob pena de legarmos uma imensa republiqueta irrecuperavelmente degenerada.
A história mostra que um povo pode construir sua nação à sua imagem e semelhança usando a fé e muita ação.
Só precisa evitar o ufanismo estúpido da turma do “Porque sim! Vai encarar?” e do incondicional e igualmente cretino “Ame-o ou deixe-o”, bem como o patriotismo hipócrita dos exploradores de sempre, que usam a estupidez popular para o seu próprio benefício inescrupuloso, forjando um país que lhes convêm enquanto mantêm um pé noutro melhor…
Afinal, não consertar o telhado porque o chão do seu quarto é estrelado não tem nada de romântico: é só hipocrisia preguiçosa, tola e perigosa!