Um dos mais graves problemas da Administração Pública brasileira é a ruptura dos bons projetos. Cada administrador interrompe aquilo que de bom se fez na gestão anterior e quer impor “a sua marca”. Isso faz com que excelentes experiências sejam desperdiçadas.
Falando em população excluída de todos os serviços do Estado, vivendo em condição indigna, portanto, é bom lembrar que a “Cruzada São Sebastião”, liderada por D. Helder Câmara no Rio de Janeiro, foi um fato notável e poderia prosseguir, não fosse a fúria inovadora de quem se recusa a enxergar o êxito de iniciativas anteriores.
De acordo com o estatuto da “Cruzada São Sebastião”, caberia a ela “promover, coordenar e executar medidas e providências destinadas a dar solução racional, humana e cristã ao problema das favelas do Rio de Janeiro; proporcionar a assistência material e espiritual às famílias que residem nas favelas; mobilizar recursos financeiros necessários a assegurar, em condições satisfatórias de higiene, conforto e segurança, moradia estável para as famílias faveladas;
Colaborar com o Poder Público na integração dos ex-favelados na vida normal do bairro da cidade; integrar-se a todos os projetos de interesse à consecução dos objetivos já enunciados e colaborar para o retorno ao campo de imigrantes de áreas subdesenvolvidas, atraídos pelas luzes da cidade e aqui transformados em favelados”. Por que algo assim não tem continuidade?
O abandono do Estado fez com que a criminalidade – o crime organizado é uma das poucas instituições realmente “organizadas” no Brasil – tomasse conta dessa gente. Agora esboça-se uma retomada do espaço perdido. Mas é preciso muito mais. Presença permanente da administração pública: infraestrutura, saneamento, saúde, educação e transporte.
Combate à violência e desenvolvimento da consciência de “pertença” ao asfalto. Erradicar as favelas – e também os cortiços, as habitações coletivas desprovidas de condição hígida para o desenvolvimento das potencialidades pessoais, é uma questão que extravasa o interesse do Governo. É interesse de todos. Até por interesse próprio, egoístico mesmo, os “ricos” deveriam se interessar e se movimentar para a solução desse problema aparentemente insolúvel.