Os democratas tiveram a sua Convenção Nacional realizada em Charlotte, na Carolina do Norte, nos dias 4, 5 e 6 de setembro.
Inicialmente prevista para acontecer num estádio aberto (Bank of America Stadium), foi transferida para um ginásio fechado (Time Warner Cable Arena) devido à previsão de mau tempo, que poderia deixar muitas cadeiras vazias, coisa inimaginável depois da fatídica “cadeira vazia do Clint”, na Convenção Republicana de Tampa.
Clint Eastwood, do alto dos seus 82 anos bem vividos, tem explicado que aquela cadeira foi colocada por algum samaritano que insistia pra que ele sentasse um pouquinho, o que inspirou a sua ira e liberou o seu lado “Dirty Harry”…
Quem, daqueles que já passaram pela experiência de entrar – pela porta da frente, mostrando aquele passe! – no ônibus lotado e ter um assento oferecido por alguma senhora prestimosa, poderia condená-lo?
Mas, voltando aos democratas e à sua convenção mesmerizadora em Charlotte, composta de milhares de delegados selecionados de forma a representar, visualmente, no grande show de televisão, todas as diversas etnias que compõem o melting pot americano, quero destacar as performances que podem ter decidido o desfecho desta eleição:
– Primeiramente, a de Michelle Obama, que sempre brilha mais que o presidente-marido, como sói ocorrer toda vez que fala em público, especialmente junto à classe média e, naturalmente, às mulheres-mães como ela.
Michelle, tanto quanto Barak Obama, também representa, bem melhor que a concorrência, o já surrado american dream das pessoas comuns, de origem pobre e humilde, mas idealistas, de querer conquistar, pelo próprio esforço – and a little help from their friends – uma vida mais decente e confortável na América.
– Em segundo, a de Bill Clinton, o 42o. presidente dos Estados Unidos da América…
Clinton, com o seu jeitão de babyboomer countryboy – nasceu em 1946 em Arkansas, considerado por muitos como o estado mais caipira dos EUA ( também berço do Walmart, coincidência ou não) – comprovou estar em plena forma física e mental, apesar das quatro pontes de safena colocadas em 2004 e da colocação de um stent pra desbloquear uma delas em 2010.
O ex-presidente, que governou do início de 1993 até o final de 2000, demonstrou também o seu enorme carisma e o fascínio que desperta em suas audiências por aqui, virtudes essas potencializadas pelo desempenho da economia a partir do final do seu primeiro mandato e ao longo do segundo, período este em que aconteceu a mais longa expansão econômica da história americana em tempos de paz.
O episódio do escândalo sexual envolvendo uma estagiária da Casa Branca, que quase lhe causou um impeachment em 1998, se transformou em mero fuxico da oposição diante da confirmação – ainda que três anos depois – do seu tema de campanha eleitoral “It’s the economy, stupid!”.
Em seu discurso, onde acabou usando quase o dobro do tempo disponibilizado de 30 minutos, o democrata de 66 anos, com a genuína extroversão de quem já viveu mais do que os outros homens os quais o gene dos seus ancestrais pôde alcançar, discorreu sobre a diferença fundamental que vê nas propostas oferecidas aos eleitores, isto é, enquanto os republicanos sugerem que o sucesso é individual, medido pelo maior prêmio que a competição pode dar, ou que ao vencedor se dê as batatas, os democratas pregam a cooperação e a parceria – entre os indivíduos, os negócios, a universidade e o governo – como a melhor estratégia pra vencer, diante do simples fato de que ninguém, isoladamente, está certo o tempo todo.
E procurou convencer, com números às vezes exagerados e exemplos que convinham ao argumento, mas com a ajuda da insofismável aritmética quando expôs os resultados do governo Obama até agora, que recomenda sua recontratação pra terminar o tratamento da economia doente, eis que a terapia aplicada já anuncia a cura, que só depende de terminar a dose prescrita, ao invés de voltar à mezinha antiga.
Retórica e habilidade de oratória à parte, o ex-presidente, que aderiu à filantropia e seus patrocinadores bilionários em tempo integral, mas que não resiste à “pilantropia” da política sempre que tem chance, deverá conquistar votos de rednecks que o “moço da cidade” Obama não tem conseguido…
Não sem antes que assistamos à reação dos adeptos do Good Old Party, composto por políticos experientes e grandes manipuladores – e cheios de dinheiro de campanha! – atirando pra todos os lados do seu grande rebanho, no afã de evitar qualquer desgarre.
E, conhecendo o eleitor que predomina no seu público-alvo, não acho que será pérola!