Há quase 40 anos, um grupo de cientistas ingleses fez um estudo clássico
para mostrar que, à medida que cresce a aglomeração urbana, surgem problemas
de escala que se vão tornando insolúveis. Um vilarejo de mil pessoas não
precisa de transporte motorizado para seu dia-a-dia. Da mesma forma, não tem
problema para destinar o lixo, captar e distribuir água, depor em fossas
adequadas os esgotos. À medida que avança a aglomeração, tudo se torna
problema. Ao final desse “Manifesto para a sobrevivência”, concluíram os
cientistas que, idealmente, deveríamos organizar-nos em comunidades de 500
habitantes, articuladas com outras comunidades separadas geograficamente e
formando redes regionais de até 500 mil pessoas. Não se trata de utopia,
pois muito perto desse modelo vivem muitos no interior da Europa. Também se
pode lembrar que nossos grupos indígenas, enquanto vivem na força de sua
cultura se organizam em pequenas comunidades de umas poucas centenas de
pessoas. E sempre que elas ultrapassam 40 ou 500 moradores dividem a aldeia,
formam uma nova. Porque sabem que se não o fizerem sobrecarregarão seu
entorno, o meio que os sustenta. Criarão problemas insolúveis. Perderão a
auto-suficiência no nível pessoal. Provavelmente perderão o luxo de não
receber ordens de ninguém. Não precisamos voltar a ser índios. Mesmo que
fosse possível, não teríamos competência para isso. Mas podemos olhar a
experiência, aqui e em outras partes, e criar políticas capazes de lavar a
desconcentração – e não à concentração forçada. É preciso insistir: é
crucial descentralizar a administração política e promover a participação da
sociedade na definição do orçamento em cada área descentralizada, na escolha
das metas prioritárias e na execução dessas diretrizes, assim como na
articulação das políticas de outras áreas físicas e descentralizadas. Não se
conseguirá como ponto de partida uma macro-política abrangente para
metrópoles. Esta, se ocorrer, deverá ser o final do processo e não o início.
Precisamos de política que incentivem a sustentabilidade.