CARNE, CORRUPÇÃO E TRAPALHADA

As investigações sobre o escândalo envolvendo a carne brasileira são um fato
real, mas a ele deve ser dado seu devido tamanho. As falhas no sistema de
fiscalização, há muito, estão sendo discutidas. Aliás, trata-se de mais um
dos inúmeros problemas existentes neste País, em termos de fiscalização.
Brasil tem uma das melhores e maiores indústrias da proteína animal do
mundo, que abastece muito bem 200 milhões de brasileiros e que exporta para
mais de 150 países, de todos os continentes. Sendo maior exportador de carne
bovina e de aves, e quarto de suínos, o Brasil vem se destacando nos
embarques também de ovos. Dito isso, o setor é bem maior que alguns fiscais
e algumas plantas frigoríficas mal-intencionadas (cerca de 0,3% do total da
capacidade instalada). Lógico que o fato é gravíssimo, visto que cria
insegurança sobre toda as carnes de aves, boi e suína vendidas no País e ao
exterior. Ao governo, cabe criar um plano de ação em três etapas. Primeiro,
apagar o incêndio; segundo, apresentar um novo modelo de fiscalização;
terceiro, implementá-lo. No curto prazo, prender, demitir e dar nomes aos
culpados. Mostrar firmeza e determinação, e, claro, a devida amplitude do
problema, não deixando-o maior tampouco minimizando-o. É preciso modernizar,
dando a devida importância que o setor tem. Criar um organismo eficiente e
técnico, desprovido de política e repleto de meritocracia, independente sem
ser arrogante. Devemos transformar esse azedo limão numa doce limonada.
Afinal de contas, somente dentro das porteiras dos produtores de boi são
mais de 1,5 milhão de empregos, bem remunerados, cujo conjunto familiar
chega a 5,6 milhões de pessoas. Na avicultura, o número de pessoas
envolvidas não difere muito. Temos competência produtiva, no campo, na
indústria e na distribuição. Foram pelo menos 30 anos de pesados
investimentos em tecnologia, na difusão e na aplicação. O Brasil tem imenso
potencial para ser muito mais eficiente, especialmente na pecuária de corte.
O fato de o caso ter sido descoberto por instituições e agentes brasileiros,
dentro do País, é menos pior que se tivesse ocorrido num país comprador.
Neste momento, o interessante é mostrar ao mundo que o Brasil tem
instituições sérias, capazes de detectar os problemas e, mais ainda,
explicar a amplitude e dimensão desta ocorrência, não deixando que uma
grande fatia da riqueza nacional seja destruída.