CORRUPÇÃO CRÔNICA

A corrupção crônica está impregnada em todos os lugares de nosso país,
mas o berço está na política. Não é apenas o reconhecimento implícito da
culpa da política nacional, mas muito mais: é a canonização da bandalheira,
a santificação do pecado, a negação definitiva da ética da
política.Trata-se, infelizmente, de comportamento recorrente na vida pública
brasileira: silenciar, negar, desqualificar e apostar na amnésia coletiva.
Acusações gravíssimas já não provocam nenhuma reação. É o cinismo
quimicamente puro. A nação perde anticorpos morais e sucumbe aos sintomas de
uma autêntica AIDS política. Temos razões, inúmeras, para desabar no mais
profundo pessimismo. Mas não devemos. O povo é mais perspicaz do que muitos
pensam. Fiz oposição ao governo militar e me lembro de que Médici era
endeusado no Nordeste, mas ninguém desistiu de combater a ditadura”, naquela
época. É verdade. Quem não se lembra do mote do desenvolvimentismo dos anos
70, “Brasil, Ame-o ou Deixe-o”? E “ai” de quem questionasse o “milagre
econômico brasileiro”. Embalada no populismo e na exploração de um
patriotismo exarcebado, a ditadura militar extirpou sonhos, demitiu vidas e
decapitou liberdades. Sarney, igualmente, viveu momentos de glória, apoiado
no marketing de um plano econômico de curto prazo, viu-se guindado à
condição de líder inconteste. Os “fiscais do Sarney” constituíram um
tribunal popular que condenava os hereges que se atreviam a questionar o
plano redentor. Os fatos, porém, revelaram a inconsistência do governo e a
comitiva do então presidente acabou apedrejada no Rio de Janeiro. O povo
demorou, mas deu o troco. Primeiro, nas ruas, depois, nas urnas. Hoje a
situação é tão grave que as vezes caímos na tentação de cogitar saudades da
“seriedade” dos governos que anteriormente mencionei . A corrupção é, de
longe, uma das piores chagas que maltratam o organismo nacional. Políticos
corruptos e corruptores, apoiados na força de um marketing político
desviado, vendem ilusões e lançam migalhas de assistencialismo. Mas negam ao
povo o que ele tem direito: saúde, educação e segurança compatíveis com os
impostos que paga. Cabe-nos o dever irrenunciável da perseverança
investigativa. Os brasileiros merecem um país decente. Temos que dar uma
resposta a essa bandalheira nas urnas e nas ruas, de forma democrática,
pacífica e firme.