Em mais um livro que promete ser polêmico, o professor da University of San Diego, Frank Partnoy (*), argumenta que o segredo do sucesso é esperar até o último momento pra tomar uma decisão.
É o que apregoa em seu mais recente trabalho – Wait: The Art and Science of Delay (‘Espera: a Arte e a Ciência do Atraso’).
Nele, Partnoy defende que a procrastinação, ao contrário do que se possa imaginar, é boa e, mais ainda, que a ‘manipulação’ do atraso é importante ferramenta no comportamento e nas atividades dos seres humanos.
Historicamente, a delonga não é taxada como algo errado. Os antigos gregos e romanos a tinham em grande consideração.
Para os sábios do Paternon grego ou do Panteon romano, em cujos dias o sedentarismo contribuía muito pouco pra curta expectativa de vida de então,o adiamento era norma de conduta, e eles passavam seus dias sentados e pensando, sem fazer exatamente nada, a menos que fosse absolutamente necessário.
O ‘depois-a-gente-vê’ passou a ser encarado como coisa ruim depois dos sermões do teólogo e filósofo americano, o puritano Jonathan Edwards, no século 18.
A partir de lá, os americanos começaram a tentar tirar o atraso de suas vidas, e até a invenção do fast food talvez seja decorrência disso…
Todavia, considerando estudos e resultados de pesquisas mais recentes, a conclusão é que as pessoas têm mais chance de sucesso – e/ou de felicidade! – à medida que entendem a inevitabilidade do atraso e dominam a sua gestão – com tranquilidade e sem estresse! – eis que a natureza humana sempre se imporá mais afazeres do que ‘consegue carregar’.
A questão não é se estamos postergando, mas se o estamos fazendo bem – a procrastinação passiva do couch potato sentado na frente do televisor com a lata de cerveja na mão, ainda que estivesse pensando como um deus grego ou um sábio romano, é doença terminal!
Assim, o primeiro passo é descobrir a necessidade e a prioridade – idealmente atribuídas por nós! – e o tempo de execução da ação, levando em conta até os diferentes fusos horários.
O segundo é protelar a resposta até o último grão de areia da ampulheta: se dispusermos de um ano, e precisamos de só um dia, ocupemos 364 com outras prioridades; se tivermos 60 minutos, e dá pra fazer em um, esperemos 59.
É pra já? Ponhamos agora na pasta ‘a realizar’!
Aliás, as pesquisas do professor indicam que até o “I’m sorry!” tardio tem melhor efeito na redenção do ‘atrasadinho’, porque passado algum tempo, o perdão já estará na fase embrionária…
É óbvio que todo mundo sabe que precisa administrar o seu tempo, sempre tão curto, em função de suas obrigações.
Mas, no meu entender, o que o professor Frank Partnoy defende, longe de ser simples apologia à preguiça ou desprezo à oportunidade fugaz – e ao Malcom Gladwell e seu livro Blink sobre as vantagens da decisão instantânea – é a ponderação responsável e inquisidora em contraposição à precipitação, às reações ‘de estalo’, ao impulso de consequências imprevisíveis, muitas delas historicamente catastróficas.
Os casos de epifania, na maior parte das vezes, não são verdadeiros.
Provavelmente os tombos, demoradamente analisados – e não a maçã – é que ajudaram o Isaac Newton a perceber a gravidade.
O Thomas Edison não descobriu de repente a lâmpada elétrica, nem o Tim Berners-Lee inventou instantâneamente a World Wide Web.
A inovação não acontece da noite para o dia, mas de forma lenta e gradual, mesmo considerando o ritmo vertiginoso dos tempos modernos.
Pelo que se depreende da pesquisa, os homens têm se beneficiado mais dos pensadores que se libertam da prisão do tempo, representada pelo tic-tac irritante do relógio, ainda que imaginário no digital…
E, afinal de contas, os velhos sábios romanos também nos legaram o dolce far niente!
(*) Frank Partnoy, atualmente professor universitário de direito e finanças em San Diego, é também autor do best-seller F.I.A.S.C.O.: Blood in the Water on Wall Street, baseado em sua experiência como vendedor de derivativos no Morgan Stanley no início dos anos noventa.
Criticado como caça-níquel sensacionalista por Jonathan R. Maccy, da Yale Law School, aquele livro classifica e descreve a estratégia do Morgan Stanley como predadora oportunista da ingenuidade dos seus clientes, e, nisso, se assemelha aos agiotas – sharks (tubarões), em inglês.
A expressão blood in the water (sangue na água) insinua a iminente presença – e o ataque! – de tubarões.
O acrônimo F.I.A.S.C.O., derivado de Fixed Income Annual Sporting Clays Outing (literalmente ‘evento anual de tiro ao prato da renda fixa’), capcioso, se refere à confraternização anual realizada pelo Morgan, em campo de tiro particular, pra celebração dos resultados alcançados.
Sporting Clays, variação ampliada do tiro ao prato, é também chamado aqui nos EUA de golf with shotgun (‘golfe com espingarda’), por ter de 10 a 15 diferentes estações de tiro, distribuídas em grandes áreas naturais.