E depois da prisão?

Parece incrível que em pleno século XXI, no terceiro milênio, a sociedade ainda não tenha encontrado outra fórmula para responsabilizar o infrator por sua conduta, a não ser a prisão. Todos sabem que encarcerar não é solução. O cárcere brasileiro é na maior parte das vezes indigno de abrigar seres humanos. Concentra malefícios, potencializa o ressentimento, gera revolta e produz uma criminalidade muito mais perigosa do que aquela trazida por quem nele ingressou pela vez primeira.

Todavia, a resposta estatal, aplaudida pela população, é a de se multiplicar presídios. A cada ato infracional, clama-se por prisão. Mas ninguém quer cadeia perto de sua casa. Os mesmos municípios que pedem o fim da impunidade e a segregação do criminoso fazem comitivas para rechaçar a possibilidade de edificação de penitenciária em seu território.

Em teoria, o sistema carcerário é perfeito. Há previsão de progressividade, à medida que o encarcerado se conscientize do mal perpetrado e se regenere. Um dos derradeiros passos antes do retorno ao convívio social é a concessão de indultos ou saídas carcerárias. É um benefício a que o sentenciado tem direito e que não pode restar ao arbítrio do juiz das execuções criminais.

Foi por isso que a Portaria 2-2012 de Presidente Prudente não pode prevalecer em sua inteireza e teve três de seus artigos revogados pela Corregedoria Geral. É que apenas 107 presos seriam beneficiados com o indulto de Páscoa, por falta de tornozeleiras eletrônicas. Não é a existência desse equipamento que deve condicionar a fruição do benefício. Se o reeducando tem direito a ele, cumpre permitir a saída, a despeito da carência do objeto. A Administração Penitenciária tem de ser provocada ou mesmo compelida a adquirir tais dispositivos de monitoramento eletrônico. Mas a sua falta não pode proibir que o sentenciado com direito ao indulto deixe de gozá-lo.

O CNJ lançou o projeto “Começar de Novo” para cuidar de oferecer ao egresso uma possibilidade real de reinserção na vida social. Com base nele, recentemente, a mão de obra carcerária encontrou espaço para trabalhar no “Itaquerão”, o Estádio do Corinthians que tem de ficar pronto para a Copa de 2014. Que outros projetos surjam e, igualmente, frutifiquem!

1 comentário

  1. Bruno Luis Costa Buran

    Excelente!!!
    Desde os bancos acadêmicos eu penso na falência da prisão. E fico assustado com a falta de cabeças pensantes sobre o assunto, principalmente no meio jurídico. Ainda bem que a nossa Corregedoria se mostra sensível ao problema. Que os governantes também consigam chegar à mesma conclusão. Dr. Nalini, obrigado pela sua opinião, que é um alento. Abraço! Bruno

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