Era assim que Gore Vidal chamava o seu país. Acreditava que a política norteamericana traíra os princípios fundadores da Nação: “Os Estados Unidos foram fundados pelas pessoas mais inteligentes do país, e desde então, nunca mais as vimos”. Era cético em relação à Democracia: “Parece que um país democrático é um lugar onde são realizadas muitas eleições, a um custo alto, sem discutir questões substantivas e com candidatos intercambiáveis”.
Zombava daquilo de que os americanos se orgulham: “De 4 em 4 anos, a metade ingênua (da população) que vota é incentivada a acreditar que, se pudermos eleger alguém simpático, tudo ficará bem. Mas não ficará”. Era um ensaísta erudito, divertido e perspicaz. Era franco demais, excessivamente apegado às suas próprias opiniões.
A coletânea de 1993 (“Estados Unidos. Ensaios 1952-1992″) é um compêndio fabuloso que mapeia a cultura e a política do país que ele, a um tempo, amava e odiava. Escreveu dois livros de memórias: “Palimpsesto” e “Point to Point Navigation”. Foi amigo de Eleanor Roosevelt, da Princesa Margaret, do maestro Leonard Bernstein, sem falar em John Kennedy, pois era quase parente de Jackie Bouvier Kennedy e depois Onassis. Ambos tiveram o mesmo padrasto.
Brigou muito: com Truman Capote e com Norman Mailer. Este chegou a dar um soco em Gore Vidal. O que o fez retorquir: “Mais uma vez, faltam palavras a Norman”. Mas foi amigo de Tennessee Williams, cuja peça “De Repente, no Último Verão”, ajudou a adaptar para o cinema. Chegou a se candidatar ao Congresso em 1960, pelo Estado de Nova Iorque e ao Senado pela Califórnia, em 1982. Perdeu em ambas. Maldoso, dizia “Cada vez que um amigo faz sucesso, morro um pouquinho”.
Doutra feita, falou: “Não basta ter sucesso. É preciso que outros fracassem”. Escreveu 25 romances. O terceiro, “A Cidade e o Pilar”, de 1948, foi colocado numa lista negra, mas vendeu um milhão de exemplares. Durante o ostracismo, continuou a escrever com o pseudônimo Edgar Box. Foi roteirista de cinema e ajudou a reescrever o roteiro de Ben Hur. Polêmico, milionário, criador de casos. Representou uma era americana. Era primo de Al Gore, foi batizado como Eugene Luther Gore Vidal. Morreu em 1º de agosto de 2012.