Gray Thanksgiving, Black Friday, Red Saturday…

Nos Estados Unidos, manda a tradição que a celebração do Dia de Ação de Graças (Thanksgiving Day), oficialmente numa quinta-feira, comece com o perdão presidencial ao um felizardo peru – que, transformado em celebridade, desfilará em carro aberto em alguma parada da Disney – seja o feriado mais longo do ano, junte o maior número possível de familiares e termine na ressaca da segunda-feira no trabalho…

Enquanto se prepara a comilança sem fim do Dia propriamente dito, os descendentes dos primeiros peregrinos e dos poucos índios a quem perdoaram as ofensas – como àquele peru o presidente – bem como os demais penetras que continuam chegando e se acomodando facilmente com o lado festivo da cultura americana, assistem às paradas, com um entusiasmo só rivalizado com a exaltação pagã da Sapucaí.

O Dia de Ação perdeu a Graça e, com a indução dos grandes grupos comerciais (Macy’s, McDonald’s, Walmart, pra não mencionar todo o setor) com suas paradas e campanhas que mesmerizam, tornou-se simples prelúdio do dia seguinte: a chamada Black Friday.

Essa sexta-feira – que no Brasil chamaríamos carinhosamente de ponte, por estar entre um feriado e um fim de semana – acabou se tornando também opção de feriado pela maioria das empresas não-varejistas americanas, pressionadas pelos funcionários que não resistem a uma ponte e à vontade de reencontrar os seus parentes no outro lado…

Tradicionalmente, inicia a temporada natalina de compras, à qual os varejistas dão a largada, abrindo suas lojas na madrugada – quando não na noite da véspera, como já o fazem o Walmart e alguns outros – e oferecendo descontos ainda mais irresistíveis do que laços de família.

Atraem multidões de fregueses ensandecidos, fazendo deste o dia de maior venda do ano nas lojas de varejo da América – onde tem desbancado o último sábado anterior ao Natal por anos seguidos – sejam tais lojas virtuais ou de alvenaria, nas quais o murundu de compulsivos é mais palpável, literalmente.

Diz a lenda que o termo Black Friday foi criado originalmente pelos policiais de trânsito da Philadelphia, no começo dos anos sessenta, pra definir o caos entre veículos e pedestres provocado pelo frenesi generalizado.

Atualmente, a versão mais aceita é a que ilustra o fato do lojista sair do prejuízo – pelo grande volume de vendas nesse dia – e passar a ter lucratividade, ou seja, sair do vermelho e entrar no preto, cor que indica lucro na contabilidade do Tio Sam.

Do lado do consumidor, o que mais o preocupa – quando volta a si no sábado! – é o extrato do cartão de crédito no vermelho…

É evidente que a moda – catapultada pelas multinacionais e empreendedores criativos – se alastrou pelo mundo afora, e o Brasil, com o seu jeito peculiar de fazer negócios, não poderia  ficar de fora desse espetáculo consumista…

Os brasileiros de maior renda – alguns sempre prontos a criticar os americanos (talvez pra encobrir a tietagem!) quando não estão em Miami ou Nova Iorque – têm aderido de forma crescente e surfado, animados, nessa onda, seja como freguês ou empresário varejista.

E estão atraindo um número cada vez maior de ávidos caçadores de pechincha, à medida que o evento se alastra a todas as atividades comerciais e a todas as faixas sociais!

A parte sem graça nenhuma é quando atraem o Procon, acionado pelos internautas – essa tão promissora versão moderna do vigilante rodoviário e sua Harley-Davidson! – procurando por estojo de maquiagem de desconto ou pegadinhas de malandro…