A Flórida não conta!

As hostilidades da Primeira Guerra Mundial foram formalmente encerradas na décima-primeira hora do décimo-primeiro dia do décimo-primeiro mês do ano de 1918, com a assinatura do Armistício pelos derrotados alemães.

Assim, neste 11 de novembro, a América celebra o Veterans Day, que, por ser domingo, leva o feriado nacional à segunda-feira, que ninguém é de ferro…

Enquanto isso, os velhinhos do Sunshine State – talvez o mais cosmopolita dos estados americanos – continuam contando os seus votos na base do “un para mi, un para ti”, como se ainda fizessem alguma diferença…

La Florida, que parece aos poucos estar voltando aos seus ancestrais espanhóis, representados por seus descendentes latinos, tem se comportado nas eleições federais como aquele apêndice que suas formas lembram:

Só se percebe que existe quando inflama, como aconteceu em 2000, quando a Suprema Corte americana precisou decidir a disputa presidencial entre o republicano George W. Bush e o democrata – então vice-presidente – Al Gore.

Naquele ano, Al Gore ganhou a presidência no voto popular, mas a margem foi tão pequena que o Colégio Eleitoral deu a vitória a Bush.

Acionada, a Corte Suprema, em decisão bastante disputada, ordenou que a recontagem fosse interrompida e corroborou o veredicto dos delegados do Colégio.

Desta vez, os Floridians ficaram contando sozinhos, vendo seus luxuosos navios de cruzeiro passarem ao largo, porque Obama, com os 303 delegados dos demais 49 estados, ficou bem acima do mínimo de 270 votos necessários pra não ser despejado da Casa Branca, e nem precisou dos 29 delegados do estado-península, que ficou ainda mais ilhado.

Postumamente – e a quem interessar pudesse – a finalização da contagem dos votos no sábado indicou que Obama conquistou também os relegados delegados da Flórida, eis que mais de meia-dúzia de seus cidadãos assim o decidiu, e a função esperada do Colégio Eleitoral é a de acompanhar a opinião de seus eleitores, se não a opinião pública da nação americana, como fez Mitt Romney ao conceder, a seu modo, na vitória do adversário…

O sistema de votação americano é controlado pelos estados – que teimam em ser independentes, principalmente quando não precisam de ajuda federal – e é conduzido por politicos com objetivos evidentemente partidários.

E seria muita ingenuidade imaginar que o não fosse.

Apoiado por um Congresso (State Congress) e por uma Câmara Legislativa (State House of Representatives) de maioria Republicana, o atual governador do estado, Rick Scott – Republicano roxo – tem sido acusado de colocar obstáculos aos eleitores Democratas.

Tais acusações vão desde a diminuição dos locais de votação até a restrição de equipamentos (urnas, cabines de votação, etc.), bem como de funcionários menores de oitenta anos, nos condados de histórica hegemonia Democrata, que incluem as áreas densamente povoadas de Miami a Palm Beach.

Afinal, as pesquisas eleitorais – que qualquer governador pode consultar ou mandar fazer – também servem pra mostrar onde está quem…

Outra alegação levantada pelos descontentes veteranos é o fato de que o governador Republicano assinou, no ano passado, uma lei que reduziu de 14 para 8 dias – e eliminou o domingo – o período permitido pra o voto antecipado (early voting), opção esta notoriamente utilizada pelos vagarosos eleitores do estado, e preferência dos Democratas.

Pelo jeito, se estava mal intencionado (…), o tiro saiu pela culatra, e o tempo perdido nas longas filas – juntamente com a frustração do eleitor! – pode ser cobrado nas próximas eleições estaduais, mais adaptadas à modorra floridiana, e cujos votos não precisam ser contados muito depressa…