O fraco está em alta

Norberto Bobbio distinguiu entre as virtudes fortes – coragem, firmeza, bravura, ousadia, audácia, descortino – e as virtudes fracas – humildade, modéstia, moderação, recato, pudicícia, castidade, continência, sobriedade, temperança, decência, inocência, ingenuidade e simplicidade.

As primeiras seriam atributos dos poderosos, daí serem chamadas virtudes reais ou senhoriais. Podiam ser denominadas “virtudes aristocráticas”, ou seja, própria a quem governa, dirige, manda e comanda.

Já as últimas caracterizariam a parte da sociedade onde estão os humilhados, os ofendidos, os pobres. Enfim, os excluídos. Estes fazem parte da massa anônima, daquela que não faz história. Na verdade, são os protagonistas da “não-história”.

O Brasil do ano 2015 assiste à relatividade notória entre os “fortes” e os “fracos”. Os que presumivelmente lesam a Pátria e sacrificam as futuras gerações são os detentores daquilo que sempre foi considerado sinal de nobreza. Os espoliados acrescentam ao rol de suas qualidades a resignação, o conformismo e a esperança.

Do que é que a Pátria precisa hoje? De mais políticos providos de virtudes fortes ou de mais indivíduos de bem? A resposta é óbvia. A mídia não contribui – ao menos a mais poderosa – para enaltecer o cumpridor de seus deveres. Reserva espaço e estardalhaço para os que sangram a Nação. No campo macro, onde reinam as falcatruas bilionárias, que deixam o brasileiro pasmo diante da intensidade dos crimes. Mas também na área micro, daqueles que perpetram violência contra o semelhante, que assumiram o ofício da crueldade e que não respeitam a vida, a incolumidade física e a dignidade do ser humano.

O rumo desta Nação desalentada não tem prognóstico favorável, seja na economia, seja na política. Por que não tentar a recuperação das virtudes “fracas”, pregar a ascese e o retorno do princípio da subsidiariedade, já que o Estado “paizão” está vertendo sangue e mostrando a putrefação de suas entranhas?

Quem tiver juízo terá de encontrar força e estímulo para reagir, para acreditar num futuro melhor, ainda que longínquo. Opção mais patriótica do que assumir a cidadania estrangeira e partir para melhores rumos e perspectivas.