A liberdade de expressão talvez seja a mais importante demonstração da dignidade humana. É o início de uma propaganda de empresa fabricante de cigarros. Ela não está sozinha. Tenho uma querida amiga, jurista renomada, que chegou a acionar companhias aéreas que vedaram o fumo durante os voos. Para a propaganda bem feita e ora veiculada em ambientes restritos, em relação ao convívio entre fumantes e não-fumantes o papel do Estado deve ser o de conciliar as duas formas de exercício da liberdade.
Não sei por que, isso me fez lembrar os pavorosos índices de mortalidade do trânsito no Brasil. Quase 50 mil pessoas morreram em 2010. O número de mortes no trânsito brasileiro cresceu 13,9% em 2010. Foram 117 mortes por dia. A maior alta ocorreu entre os motociclistas: 10.825 mortes. O sudeste é o lugar que ostenta a primazia nesse ranking macabro. Pudera! É aqui a maior concentração de veículos automotores.
Se a sociedade já conseguiu reprimir moderadamente o fumo – fumar faz mal à saúde – e o álcool – se beber não dirija – ela é tolerante com o carro. Automóvel mata, motocicleta mata ainda mais. A bicicleta, que é um veículo de uso incentivado entre os civilizados, é vítima do motorista deseducado no caos tupiniquim. Alguns poucos privilegiados se dão ao luxo de caminhar na peregrinação turística de Santiago de Compostela ou de percorrer a Toscana de bicicleta. Aqui não sobreviveriam à péssima educação no trânsito.
As pessoas que, em sua maioria, já perderam a polidez no trato urbano, se transformam em verdadeiros monstros quando à direção de um automotor. Se na França “la priorité est le pieton”, aqui a coisa demora a pegar, porque o carro estimula o violento a humilhar o pedestre. As políticas públicas equivocadas quando abandonaram a ferrovia e estimularam a indústria automobilística agora perseveram no erro e não percebem o custo imposto à Nação diante da insensatez no trânsito. Ao contrário de insistir numa reversão, incentiva-se cada brasileiro a ter sua própria arma veicular. Todo brasileiro tem liberdade de ter seu carro. Liberdade de locomoção, é claro. Mas também liberdade para matar. Ou para morrer.