Morrer de trabalhar

MITA DIRAN era redatora de publicidade da Young & Rubican da Indonésia e no último dia 14 de dezembro, postou no twitter: “30 horas de trabalho e continuo forte”. Só que depois disso ela morreu. Vítima daquilo que os japoneses chamam “karoshi”: overdose de trabalho. Ela foi estimulada a aferir sua capacidade de permanecer frente ao computador até vencer um recorde.

Na verdade, foi um autoimposto desafio ou uma disputa subliminarmente estimulada por seus patrões? Como ela, existem muitos seres humanos que se matam a trabalhar. Se o mercado convive com a geração “nem-nem” – nem estuda, nem trabalha – existe uma legião dos que trabalham demais. E repousam de menos. Onde está a era do ócio, que permitiria ao ser humano usufruir do patrimônio natural, se entreter com arte, cultura, lazer e outras diversões?

O certo é que todos estamos muito ocupados, sem tempo para nada, trabalhando alucinadamente, estressados e mal humorados. Será por medo do descarte? Quem não produz é descartável. Essa é a regra do mercado. O tema tem sido estudado por alguns pensadores. Steve Poole escreveu o ensaio “Por que o Culto ao Trabalho Intenso é Contraproducente”, para alertar aqueles que mergulham numa atividade intensa e esquecem de viver.

Já Andrew Smart produziu o livro-manifesto “Autopilot : A arte e a Ciência de Não Fazer Nada”. Tentam mostrar que ainda há espaço para a contemplação, para o “dolce far niente”, revalorizando o superado conceito de que “ficar bestando é regenerativo e potencialmente criativo”. Confesso que sou um workaholic, viciado em trabalho. Sinto prazer em trabalhar. Durmo pouco e me lembro sempre de Tancredo Neves: “Por que dormir agora, se terei para descansar a eternidade toda?”

Não me recuso, porém, a tomar conhecimento das advertências de quem se preocupa com o assunto. Nem sempre esse mergulho no trabalho é necessidade ou inevitável condição de vida. Na verdade, é uma opção. Admito que é uma espécie de conforto existencial, um antídoto contra a sensação de vazio e solidão. A pior solidão é aquela de quem está rodeado de pessoas, mas sabe que a vocação humana é nascer sozinho e morrer solitário.