O Papa da periferia

Assim está sendo chamado Francisco, por visitar, na América Latina, os países mais pobres: Equador, Bolívia e Paraguai. Mas também por adotar temas periféricos, tais como a defesa da natureza. Quem, dentre os “maiorais”, teve coragem de dizer que nós, espécie petulante e autointitulada “racional”, estamos fazendo do planeta uma grande lata de lixo?

Papa da periferia quando pede respeito e compaixão pelas minorias. Quando se recusa às pompas e circunstâncias do Papado e prefere uma residência mais simples e comunitária. Periférico ao telefonar para amigos em Buenos Aires, ao dar satisfações ao jornaleiro dizendo que não era mais preciso enviar o seu exemplar diário ao antigo endereço.

Aquilo que era periférico tornou-se central e o Papa enxergou isso. Descobriu que o Cristo, se voltasse hoje, se preocuparia com as periferias e não com o considerado “nobre”. Jesus estaria na cracolândia, acompanharia os moradores de rua, não condenaria as opções desprezadas ou o fatalismo irreversível de quem nasceu diferente.

O farisaísmo não teria vez com o Messias. Os egoístas, os arrogantes, os interesseiros, os que se consideram acima do bem e do mal, agentes insuspeitos do establishment não seriam as companhias preferidas do filho do carpinteiro de Nazaré.

Aqueles que procuram honras e glórias, os que amealham bens materiais e se esquecem da alma, os que não conseguem ver senão o mal no próximo, os maledicentes, os caluniadores, os desprovidos de compaixão, todos esses seriam banidos do convívio com aquele que pregou a tolerância. “Em casa de meu Pai há várias moradas. Se não fosse assim, eu não lhes teria dito!”.

Os “sepulcros caiados” foram instrumentos da morte em cruz do Salvador. Seus sucessores também sentem urticária quando ouvem a verdade nua e crua proclamada por esse jesuíta/franciscano, que não tem medo de desagradar, que é coerente com o que se espera de uma Igreja do amor, uma família cristã caridosa e não cobradora de observância estrita de formalismos e ritualismos estéreis. Aquilo que os simples intuíram ao deixarem uma Igreja que os não acolhe, mas preserva no cruel caminho da exclusão.