Os chineses têm mais juízo do que os brasileiros. Ao menos é o que se extrai da medida adotada pelas autoridades de Guangzou, metrópole repleta de carros, que teve a coragem de inibir a entrada de novos automóveis no seu trânsito caótico. A providência foi introduzir leilões e loterias para placas de licenciamento. Isso reduzirá quase à metade o número de carros novos nas ruas.
É a mais restritiva dentre as iniciativas adotadas por grandes cidades chinesas que optaram pela qualidade de vida, embora em detrimento da economia. O crescimento da China trouxe um ar empesteado e uma água suja. Isso tem reflexo nos custos da saúde. Mesmo com a tendência de desaceleração da economia, houve maturidade do governo. É preciso renunciar a algum crescimento para se obter uma saúde melhor para o cidadão.
A par disso, exige-se um diesel e uma gasolina mais pura. Fecham-se fábricas poluidoras que não se adaptam a níveis suportáveis de emissão. São destruídos carros fabricados antes de 2005, pois não atendiam a um controle de qualidade compatível com a gravidade da situação ambiental. A China reconheceu que o crescimento a qualquer custo não é sustentável. Ouviu o clamor do povo, insatisfeito com o exagero na ocupação das ruas pelos automóveis, a subserviência da saúde aos imperativos da economia.
Diante da insatisfação pública com o tráfego, a prefeitura de Guangzou construiu extensas linhas de metrô, multiplicou os parques, edificou enorme teatro de ópera. Há uma lição a se extrair desse fato. A China não é mais uma economia em desenvolvimento que adotou um capitalismo tosco e continua comunista no nome. É uma economia industrializada moderna, cujos líderes sabem ouvir a opinião pública e buscam equilibrar meio ambiente, bem-estar social e outras questões.
As autoridades estão mais interessadas no meio ambiente depois de enormes manifestações no ano passado contra fábricas poluidoras em Dalian, Shifang e Qidong. Tudo ali é mais fácil porque o governo também é dono das empresas automotivas. Não é refém delas, como em outros países. Está certo o chinês que hoje reconhece: “Para que precisamos de PIB, se não temos saúde?”.