Todas as pessoas querem a felicidade. Só que a felicidade é algo intangível. Assim que se atinge um objetivo, um outro se vislumbra e o ser humano parece insaciável.
O ser humano feliz é aquele que precisa de pouco. Depende de ninguém. Conta só consigo mesmo, pois assim não se decepcionará com a ingratidão, com a falsidade, com a hipocrisia.
Não é fácil atingir essa independência interior que o libere das amarras externas. O filósofo polonês Leszek Kotakowski propõe o caminho da auto-observação como estratégia para uma vida melhor. Seu livro “Pequenas Palestras sobre Grandes Temas” é um conjunto de pequenas e singelas lições sobre tudo aquilo que costuma conturbar as emoções e tirar o equilíbrio sempre instável das miseráveis criaturas humanas.
Quais são as turbulências que a vida contemporânea oferece a quem não perdeu a capacidade de pensar? Pois há uma legião de pessoas que pouco se preocupa com tais temas. Sobrevive instintivamente, numa vida quase vegetativa: comer, trabalhar, dormir. Essa existência singela não suscita grandes traumas. Será que nela reside a verdadeira sapiência?
Mas para os outros, o poder, a fama, a mentira, a inveja e a liberdade, o dinheiro e o amor, podem trazer desconforto. Ao falar sobre “amigo” e “inimigo”, Leszek assinala ser muito difícil que algum outro seja responsável pelos meus insucessos. Reconhecer a própria fraqueza é armar um golpe contra nós mesmos.
Já Philip Dormer, em suas “Regras Para Bem Viver”, escritas no século 18, reúne máximas sobre espiritualidade, amor, morte, vida cotidiana. Ele faz uma pregação contra o medo: “Não apavores tua mente com temores vãos, nem permitas que teu coração sucumba aos fantasmas da tua imaginação”.
É idêntico o bom senso proposto por Paolo Rossi em “Esperanças”. Ele convida a refletir sobre esperança por dias melhores, por felicidade possível, e a cultivar somente as esperanças “sensatas”.
É descartável a “Grande Esperança”, ilusão no mundo desigual por natureza, pois viver é peregrinar por um “vale de lágrimas”, com pequenos intervalos de sossego. Aproveitemo-los enquanto presentes, pois raros e fugazes.