Rico é assim mesmo

O ufanismo celebra ficções e quer provar que o Brasil nunca esteve tão bem. Talvez não seja bem assim. Quem tem juízo presta atenção ao contexto e não aos factoides. A jornalista Miriam Leitão em “O Globo” joga água na fervura ao falar sobre o que os brasileiros torram em viagens internacionais: -”Foram 23 bilhões de dólares gastos lá fora com viagens contra 6,1 bilhões de dólares que entraram no país com turistas estrangeiros.

 

Um rombo de 16,9 bilhões de dólares na conta turismo. A balança comercial registrou até novembro de 2013, 39,3 bilhões de dólares de importação de petróleo e derivados. Parte disso é combustível de 2012, que foi jogado na estatística de 2013. Como houve apenas 19,8 bilhões de dólares de exportação, o rombo do setor petróleo e derivados chegou a 19,5 bilhões de dólares no ano”.

Não comentou o perdão da dívida de países que deixaram de honrar compromissos, mas provaram da generosidade brasileira. Empresários estão desanimados porque reina no Brasil uma espécie de cultura das bondades. Tudo deve ser provido pelo Estado. Sem trabalho, sem esforço, sem iniciativa. Sacrifício é um verbete excluído do dicionário nacional.

O resultado é esta maravilha de economia. Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal confirma – “A conjuntura não permite otimismos: inflação alta, manipulação de preços, crescimento baixo, desequilíbrio fiscal, endividamento das famílias, são males cuja superação vai requerer ciência, tempo e determinação, temperados pela boa política”.

 

Enquanto isso, a Administração Pública em geral continua a gastar com propaganda. Algo que deveria ser proibido. É como se em cada lar, a mulher tivesse de imprimir um prospecto para mostrar ao marido onde empregou o dinheiro do orçamento doméstico.
Se as obras são feitas, elas falam por si. Se o trabalho é persistente, ele é a maior propaganda.

Mas alguém acredita que essa tendência reverta e que os detentores de qualquer parcela de poder renunciem a esse costume de fazer publicidade personalista, em nome da transparência republicana? Será que foi isso o que o constituinte quis?
São temas para discussão, muito mais importantes do que rolezinhos ou fofocas, que tomam precioso tempo da seriedade reclamada pela situação geral do Brasil.