Sem condições

O jurista e meu amigo Ives Gandra da Silva Martins, em palestra na Fecomércio outro dia, citou duas vezes Roberto Campos. A primeira frase era a de que “não existe a menor possibilidade de o Brasil dar certo”. A segunda: “a corrupção, no Brasil, teve um passado glorioso e ostenta um futuro promissor”.

Aparentemente é isso o que se mostra viável, quando se constata a desenvoltura com que nos escalões inferiores se continua a exigir propina, participação nas licitações, obtenção de nomes indicados por quem tem interesse para funções relevantes, controle das verbas mais vultosas da administração. Tudo sob verdadeira chantagem: se não for assim, não tem apoio. A que ponto chegamos!

Mesmo diante da Operação Lava Jato, da prisão de pessoas até há pouco acima de qualquer suspeita, de grandes empresários, a arraia miúda não se intimida. Continua na penumbra, a fazer o que sempre se fez. Por isso é que o remédio para salvar o Brasil da saúva da corrupção é a educação consistente. Desde criança, deve-se ensinar que a única alternativa digna para uma subsistência normal é o trabalho.

O dinheiro deve ser a retribuição ao esforço despendido. Ninguém tem direito a exigir do governo mais do que a segurança pública para a manutenção da ordem. Todos os demais direitos dependem do Erário, isto é, do resultado da contribuição da população que trabalha. Nada obstante as promessas de que tudo e todos estariam garantidos quanto às suas pretensões, o Estado aparentemente faliu.

Não tem mais como atender às demandas que podem ser justificadas e até legítimas, porém não há como satisfazer à coletividade sequiosa de benefícios, se o dinheiro não é suficiente nem para o essencial. Demorou para que a “ficha caísse” e as pessoas lúcidas compreendessem que depositar no Estado – Nação politicamente organizada – todas as esperanças é uma falácia.

Cumpre ressuscitar a subsidiariedade e a ascese. A primeira, para incentivar a iniciativa privada, o empreendedorismo e a vontade de trabalhar. A segunda, para ensinar a viver com menos e a dispensar o luxo, até que as coisas melhorem. Por enquanto não se vislumbra a mínima perspectiva de continuar a concessão de benesses com que o povo foi iludido nos últimos anos.