Será que é isso mesmo?

Meus avós maternos – Anna Rodrigues e João Barbosa – morreram quando eram mais novos do que eu. Nem se fale de minha “nona”, Catarina Boaroto Nalini, que teve morte ainda mais precoce. Os três pareciam idosos. O que mudou? A minha concepção de “idoso”? Ou os tempos são realmente outros? O neurologista Oliver Sacks acaba de completar 80 anos. Escreveu no “New York Times”: “Oitenta anos!

Mal consigo acreditar. Muitas vezes, sinto que a vida está apenas começando, mas então me dou conta de que ela quase acabou”. Ele se considera a pessoa mais velha que conhece. Mas nos Estados Unidos, onde vive, há mais de 10 milhões de pessoas com mais de 80 anos. Graças aos avanços da medicina, aos cuidados com a saúde e, por que não dizer, por uma dose razoável de sorte, as pessoas estão vivendo mais. Ainda estes dias vi na TV um paciente de câncer no pulmão dizer:

“Fumar é a maior ignorância que pode ser cometida contra nós mesmos!”. Ao lado deles, existem os que abusam de outras drogas: o álcool, os estupefacientes, a velocidade, as vítimas da violência. Estas reduzem a média. Todavia, o que dizer quando ícones da juventude eterna como Bob Dylan, Paul McCartney, Mick Jagger, Roberto Carlos, já passaram dos 70 anos? Os ídolos da minha juventude criticavam os valores das gerações mais velhas. Hoje, quem possui 80 anos parece estar com 50. Ou, quem completa 71, diz que está com os 17 reciclados…

A verdade é que os mais velhos sentem o tempo passar mais rápido. A demora é aquele período com a boca aberta, aguardando que o dentista faça o tratamento. Ou a retirada de sangue. Ou os minutos que dura uma tomografia, uma punção, uma ressonância magnética. É preciso se controlar para não perder a tranquilidade. Um cateterismo, uma angioplastia, um exame invasivo qualquer. Mas os anos, esses passam rapidamente.

É estranho verificar que se tem mais amigos no etéreo do que na vida real. Que você conheceu nomes que hoje denominam logradouros públicos. A idade tem suas vantagens? Alguém já sentiu a falta de pressa, o ócio com dignidade, o descanso, a tranquilidade? Ou tudo continua como antes, só que hoje de forma acelerada, sem tempo de fruir melhor do convívio, com a mesma urgência de sempre?