Vida cronometrada

Quando vemos crianças brincando desenvoltas com seus “tablets”, acionando computadores pessoais, utilizando-se de smartphones e descobrindo funcionalidades que sequer imaginamos, não há como não se convencer de que o mundo é outro.

Somos senhores ou servidores da tecnologia? Depende. Como várias outras coisas na vida, nos servimos delas ou estamos a seu serviço. Assim é com o dinheiro, com o poder, com a fama, com a amizade, com o sexo, com a diversão. Somos usuários ou dependentes. E isso depende apenas de nós mesmos.

Todo fanatismo pode tornar-se perigoso. Numa fase em que o exercício físico tornou-se verdadeira mania, há quem exagere. Tive a oportunidade de mudar um discurso de paraninfo para alunos da FAAP que me escolheram há alguns anos, falando sobre as “alminhas saradas”, de quem parecia se preocupar mais com os “corpinhos sarados”.

 

Agora vejo que o escritor americano A.J.Jacobs, de 45 anos, depois de quase morrer por causa de uma pneumonia, resolveu tornar-se o “homem mais saudável do mundo”. Para isso, adotou uma série de “wearables”, aqueles instrumentos vestíveis que nos ajudam a controlar o tempo e outras coisas mais.

Iniciou com o pedômetro, que conta os passos. Há um livro dizendo que 10 mil passos diários garantem vida longa, ainda que não se faça qualquer outro exercício. A pulseria Fitbit registra toda atividade física rotineira, seja lavar louça, seja uma corrida. O Zeo Sleep Manager é uma faixa presa à cabeça que coleta ondas cerebrais para registrar a duração e qualidade do sono.

O MyFitnessPal mede as calorias consumidas no dia. Essa obsessão com a saúde virou um livro “Drop Dead Healthy” (Morto de Saúde), publicado nos Estados Unidos em 2012.

Jacobs descobriu que passar aspirador de pó em sua casa por uma hora queima 246 calorias. Cozinhar a massa de um pão em um forno a lenha representa gasto de 211 calorias. Tudo cronometrado, ele emagreceu 7 quilos, controlou seu colesterol e ficou com uma saúde de ferro.

Só que estava se tornando paranoico. O fanatismo o levou a se afastar da família, em nome do controle absoluto. Cuidar da saúde é bom. Mas da saúde integral: física e mental. Nada em excesso, já diziam os gregos.